O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)

Aqueles incômodos do cotidiano
As imagens que ficam martelando a cabeça
Mostrando o quanto podemos ser egoístas
Imaturos
Ingratos com a vida...
Hoje pela manhã, enquanto fazia minha aula de direção vi um andarilho
Cheio de sua bagagem, caminhando solitário às margens do anel rodoviário
(eu nem sei se aquilo é um anel rodoviário aqui em Uberlândia, mas tbém não sei qual BR)
E o que importa?
Importa que aquele homem continua às margens
À margem como alguém que se arrasta pela vida sem ser visto
Percebido ou sentido
Existe uma expressão: "invisibilidade social"
Isso que são: invisíveis para a sociedade
Aquela espécie de sujeira que se joga pra debaixo do tapete
A imagem desagradável que não combina com o mundo perfeito que sonhamos
Pra não sermos incomodados
Ignoramos...
Simplesmente não existe
Como uma sombra, uma miragem, uma utopia
Mas ele está ali...
Qual será o seu nome?
Será que ainda tem sonhos?
Meu Deus...
Me deu uma angústia
Por que começaram os pensamentos:
Como deve ser viver sem rumo ou direção?
Sem ter ninguém pra conversar?
Sem ter quem quer que seja pra acolher nos momentos de do?
Sem ser esperado? Amado?
Cara, deve ser muito, mas muito triste...
É uma condição sub-humana
E onde se achará a dignidade dessa pessoa que anda sozinha, imperceptível, insensível aos demais?
Essa dignidade que não queremos abrir mão, mas que por diversas vezes negamos aos outros...
Doído isso, viu?
Mais um dia de incômodo...

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2 Response to " "

  1. Dona Doida, on 1 de setembro de 2009 às 06:23 said:

    Me arrisco a dizer
    q mesmo nessa situação de extrema pobreza
    alguns deles tem mais dignidade q muitos de nós.
    Outro dia eu ouvi uma cara contando
    q saiu pela rua com um grupo
    q costuma fazer um trabalho com moradores de rua.
    Eles entregam quentinha, distribuem roupa usadas
    entre outras coisas.
    Pois entao,
    o sujeito contava q foi oferecer a um morador de rua uma muda de roupa,
    e q o sujeito nao aceitou e explicou:
    - Nao, eu nao preciso.
    Ja tenho aqui o suficente.- E apontando outro morador de rua continuou - Dê aquele homem ali q ele ta precisando mais...
    Olha, me diga se esse sujeito nao é mais digno q nós?
    Só é.
    beijos, alvíssima amiga.
    saudades

  2. Branquinha, on 3 de setembro de 2009 às 09:58 said:

    Quanta emoção receber sua visita, Naty!
    Imensa saudade de vc!
    Bjos