Acontecimento

Haverá na face de todos um profundo assombro
E na face de alguns risos sutis cheios de reserva
Muitos se reunirão em lugares desertos
E falarão em voz baixa em novos possíveis milagres
Como se o milagre tivesse realmente se realizado
Muitos sentirão alegria
Porque deles é o primeiro milagre
E darão o óbolo do fariseu com ares humildes
Muitos não compreenderão
Porque suas inteligências vão somente até os processos
E já existem nos processos tantas dificuldades...
Alguns verão e julgarão com a alma
Outros verão e julgarão com a alma que eles não têm
Ouvirão apenas dizer...
Será belo e será ridículo
Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos
No meio de todos eu ouvirei calado e atento, comovido e risonho

Escutando verdades e mentiras
Mas não dizendo nada
Só a alegria de alguns compreenderem bastará
Porque tudo aconteceu para que eles compreendessem
Que as águas mais turvas contêm às vezes as pérolas mais belas

(Vinicius de Moraes)

Estou assim...
Apenas observando!
E tentando extrair as melhores lições...

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Surpresa

E que grata surpresa!
Reler a Simone, reencontrar a Simone nas palavras tão familiares
No jeito singular de organizar o pensamento
Na forma lúcida e particular de analisar a realidade
A beleza do pequeno guerreiro Ethan!
Ah! Que feliz reencontro com dias intensos e felizes
Um reencontro com as primeiras palavras no ano de 2006
E todas as outras que se seguiram
A presença "sem rosto" bem mais relevante que muitas presenças "com rosto"
Basta saber ali
Apenas saber de ti já me traz felicidade!
Muito obrigada por estrar de volta!

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Em defesa da Eliza

Abstraindo de toda a brutalidade que cerca o desaparecimento de Eliza Samúdio.

As hipóteses convergem para o homicídio e as provas para uma covardia e desumanidade que assusta, causa perplexidade.

A motivação seria fútil, talvez livrar-se de um “problema financeiro”.

Mas o que me causa estranheza e maior indignação são os comentários postados na internet, meio justificando o fim trágico da moça.

Como se a vida pregressa de uma pessoa justificasse qualquer ato, ou pior ainda, de vítima, passa a ser a “causadora” da própria tragédia, ou seja, não fosse uma “Maria Chuteira”, ‘Pistoleira”, “Galinha”, “Oportunista”, nada disso teria acontecido... será que não?

Ora, todo julgamento traz em si uma dose de perigo... mas o que se julga nesse caso?

A índole da pessoa? O passado moral? E que moral é essa que se baseia na conveniência ou circunstâncias?

Minha mãe sempre dizia: “Quando um não quer, dois não brigam” e não mesmo...

Se o Bruno fosse uma pessoa igualmente ética e moral nos padrões apresentados, não haveria gravidez...

O ex-goleiro afirma ter conhecido Eliza numa orgia e que o preservativo estourou, incrível como preservativos estouram, será que são validados pelo INMETRO? Às vezes duvido desse argumento de sexo protegido.

Eliza apresentou queixa, não foi ouvida... quem sabe se seus interlocutores nas esferas policiais não fizeram o mesmo pré-julgamento do senso comum: “É mais uma querendo aparecer, querendo garantir seu futuro...” Pobre Bruno, tão vítima de uma mulher de vida fácil!

Agora, tudo aponta para o silêncio de Eliza...

E a “moral social (?)” tenta se impor.

Pouco importa o que essa mulher fazia, como se sustentava e quais foram as suas intenções quando engravidou do ex-goleiro... isso são questões que seriam resolvidas entre a mulher e o homem (igualmente responsáveis pela gravidez!), e os direitos discutidos não eram da mulher ou do homem, mas do menor, que agora está órfão de mãe, assassinada com a participação do pai!

Que trágica história essa criança tem para contar, muito antes de aprender a falar já está no centro de uma trama sofrida. Foi arrancada da criança o direito ao convívio com a mãe, o direito de ser alimentado pela sua genitora e agora é alvo de briga judicial entre os avós...

A vida que foi subtraída é um bem, um valor tutelado e resguardado pelas normas jurídicas vigentes e o ressarcimento será à sociedade. Não existe essa coisa de defesa da honra, da moral, existe sim a defesa da vida!

Esse é um valor inestimável, acima de qualquer senso moral e ético, extrapola os limites dos frágeis discursos sociais e por vezes hipócritas.

Justiça se faz com avaliação dos fatos, das provas e nesse caso, não há nada, absolutamente nada que o justifique!

Estou muito cansada dessa visão estreita! Desse ânimo medíocre, das justificativas vazias... cansada de gente que se coloca acima dos demais, de uma ética desprovida de conteúdo, de suposições perniciosas.

Sinto-me cansada com as capacidades humanas e com os limites do indivíduo.

Pensar na cena descrita como provável me causa mal estar, fadiga, assombro... medo desse mundo de aparências, desse domínio econômico...

“Eu sou mais do que você, se você sumir, quem se importará?”

Pelo visto, de fato muita gente não se importa!

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