Em defesa da Eliza

Abstraindo de toda a brutalidade que cerca o desaparecimento de Eliza Samúdio.

As hipóteses convergem para o homicídio e as provas para uma covardia e desumanidade que assusta, causa perplexidade.

A motivação seria fútil, talvez livrar-se de um “problema financeiro”.

Mas o que me causa estranheza e maior indignação são os comentários postados na internet, meio justificando o fim trágico da moça.

Como se a vida pregressa de uma pessoa justificasse qualquer ato, ou pior ainda, de vítima, passa a ser a “causadora” da própria tragédia, ou seja, não fosse uma “Maria Chuteira”, ‘Pistoleira”, “Galinha”, “Oportunista”, nada disso teria acontecido... será que não?

Ora, todo julgamento traz em si uma dose de perigo... mas o que se julga nesse caso?

A índole da pessoa? O passado moral? E que moral é essa que se baseia na conveniência ou circunstâncias?

Minha mãe sempre dizia: “Quando um não quer, dois não brigam” e não mesmo...

Se o Bruno fosse uma pessoa igualmente ética e moral nos padrões apresentados, não haveria gravidez...

O ex-goleiro afirma ter conhecido Eliza numa orgia e que o preservativo estourou, incrível como preservativos estouram, será que são validados pelo INMETRO? Às vezes duvido desse argumento de sexo protegido.

Eliza apresentou queixa, não foi ouvida... quem sabe se seus interlocutores nas esferas policiais não fizeram o mesmo pré-julgamento do senso comum: “É mais uma querendo aparecer, querendo garantir seu futuro...” Pobre Bruno, tão vítima de uma mulher de vida fácil!

Agora, tudo aponta para o silêncio de Eliza...

E a “moral social (?)” tenta se impor.

Pouco importa o que essa mulher fazia, como se sustentava e quais foram as suas intenções quando engravidou do ex-goleiro... isso são questões que seriam resolvidas entre a mulher e o homem (igualmente responsáveis pela gravidez!), e os direitos discutidos não eram da mulher ou do homem, mas do menor, que agora está órfão de mãe, assassinada com a participação do pai!

Que trágica história essa criança tem para contar, muito antes de aprender a falar já está no centro de uma trama sofrida. Foi arrancada da criança o direito ao convívio com a mãe, o direito de ser alimentado pela sua genitora e agora é alvo de briga judicial entre os avós...

A vida que foi subtraída é um bem, um valor tutelado e resguardado pelas normas jurídicas vigentes e o ressarcimento será à sociedade. Não existe essa coisa de defesa da honra, da moral, existe sim a defesa da vida!

Esse é um valor inestimável, acima de qualquer senso moral e ético, extrapola os limites dos frágeis discursos sociais e por vezes hipócritas.

Justiça se faz com avaliação dos fatos, das provas e nesse caso, não há nada, absolutamente nada que o justifique!

Estou muito cansada dessa visão estreita! Desse ânimo medíocre, das justificativas vazias... cansada de gente que se coloca acima dos demais, de uma ética desprovida de conteúdo, de suposições perniciosas.

Sinto-me cansada com as capacidades humanas e com os limites do indivíduo.

Pensar na cena descrita como provável me causa mal estar, fadiga, assombro... medo desse mundo de aparências, desse domínio econômico...

“Eu sou mais do que você, se você sumir, quem se importará?”

Pelo visto, de fato muita gente não se importa!

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