Seria apenas um vestido cor-de-rosa...

Não fosse o local
Não fosse a intolerância
Não fosse o gosto popular pelo escândalo e pela eleição de vítimas fragilizadas.
Na minha opinião um episódio que nem precisaria ter ganhado tanta projeção.
Mas não souberam lidar com o fato e houve a barbaridade por parte dos alunos da instituição de ensino que colocaram uma aluna no centro de um debate nacional!
A escola poderia ter impedido a entrada da aluna ou a notificado formalmente quanto à sua postura inadequada no ambiente escolar, podendo inclusive suspendê-la caso houvesse violação dos regimentos internos da instituição...
Mas a turba que hostilizou a aluna cuidou de impedir qualquer atuação civilizada para dirimir o conflito!
E a menina do vestido cor-de-rosa ganhou nome, pasou a ser reconhecida, não há uma só emissora de TV que não a tenha apresentado nos seus programas devidamente vestida com o famigerado "vestido cor de rosa choque". Do anonimato ao estrelato instantâneo, e como tudo nesse país, mais um episódio que temos que digerir diariamente, TODOS os dias o nome e a imagem da garota nos aparece...
Entendo como totalmente reprovável a postura dos alunos em relação à aluna (mas acho que não se deve pensar no vestido... e sim na pessoa). O ultraje atingiu a dignidade da pessoa, e seria da mesma monta independente da roupa que ostentasse. No estado democrático de direito que acreditamos viver, alguns bens e valores individuais devem prevalecer, e em outros casos há que se pensar no comportamento social esperado.
Não acho correto as assertivas de que "cada um faz e veste o que quer" porque vivemos em sociedade, em ambientes formais e informais. Quando se está num afesta, boate ou "balada", a pessoa se apresenta da forma que bem lhe convier, quando se está no trabalho, na escola, num hospital, Fórum há que se ter uma certa cautela na forma de se vestir e até mesmo se expressar. Não se fala alto num hospital, e se o fizer, será advertido corretamente, não se participa de uma audiência judicial usando short e camiseta regata. Não se disputa uma vaga de emprego vestida como se vai para uma festa.
Pior ainda são as colocações dos defensores da menina do vestido cor de rosa em relação aos que reprovam a forma com que a mesma foi para a faculdade: "despeito", "um bando de mal amadas" e comentários similares, tão estreitos quanto a mentalidade dos que hostilizaram a menina do vestido cor-de-rosa.
Muito pior que julgar a menina pela exibição pública dos seus atributos físicos é a defesa da idéia de que as mulheres devem se mostrar "o que é bonito é pra ser mostrado"... existe um número expressivo de mulheres que, independente d ebeleza, querem se afirmar como pessoas, e não um corpo biológico, que pensam, se desenvolvem, publicam, debatem... Essas são as mulheres que esperam romper com as amarras do passado de submissão perversa, de banalização da imagem feminina, dos estereótipos de "gostosa", "D. Maria" e outros tantos. São mulheres que batalham pela dignidade de todas as outras e que se sentem mal diante dessa situação, não pela singeleza do vestido cor-de-rosa (que no meu entendimento é inadequado sim ao ambiente escolar), mas à banalização da dignidade da pessoa que o vestia...
Acho que esse episódio já deu, já saturou a nossa paciência e anda afrontando a minha inteligência. Os dividendos da fama já estão sendo colhidos na proporção da vitimização sofrida por cada parte.
Que sejam responsabilizados os vândalos que participaram da barbárie da Universidade e que seja a menina do vestido cor-de-rosa orientada, para que ela não carregue desta fama instantânea a idéia de que ela fez tudo certo.

Antes que me esqueça, há uns anos atrás o Deputado Mão Branca impetrou um Mandado de Segurança porque a Mesa Diretora da Câmara proibiu o uso do chapéu de couro (marca registrada do deputado) por ferir os preceitos institucionais que versam sobre o vestuário adequado naquela casa, e o Supremo indeferiu o pedido alegando que não houve violação de direitos.

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2 Response to "Seria apenas um vestido cor-de-rosa..."

  1. Ju, on 25 de novembro de 2009 às 03:24 said:

    Amiga, me autoriza a copiar teu texto e publicar no meu blog?

  2. Branquinha, on 27 de novembro de 2009 às 10:03 said:

    Claro que autorizo!
    Bjos