Na terça e quarta voltei 12 anos no tempo e revivi o treinamento militar, dessa vez não como quem rala e é ralado à exaustão, fui no apoio, mas ainda assim pude sentir aquilo de novo...
A vontade de amparar quem fraqueja, adoece ou sucumbe à pressão, uma vontade de gritar: - Não pára! Força, coragem!!!
Pode tudo parecer desumano, aqueles apitos e aqueles "insultos", mas o fato é que não são, de tudo o que vivemos temos que extrair a lição, nos momentos mais difíceis temos que ter capacidade de discernimento e percepção aguçada, é importante separar a verdade da mentira, saber dosar o poder que julgamos ter para não cairmos na seara da arbitrariedade, essa sim, é o maior desvio que um agente público (qualquer que seja sua esfera de atuação) pode cometer...
E essa atividade militar propicia isso, equilíbrio! Sem dizer do espírito de equipe que é fortalecido, a necessidade de se amparar mutuamente, de não permitir que um companheiro caia... Não pode existir na vida militar o individualismo, não se pode querer destacar individualmente e se esquecer do irmão que não reúne mais forças para prosseguir... unidade, amizade e equipe! É assim que age o bom miliciano...
Me empolguei e não fiz mais porque hoje reúno uma limitação física, mas entrei no gás e vibrei junto... nesse aspecto foi ótimo!!!
Passei uns dissabores, porque isso também é inevitável, mas abstraí disso, estou desconsiderando e deletando da minha vida figuras indesejáveis...
E o mais cômico foi o banheiro... cruzes, a visão do inferno!!!
Podem me chamar de fresca, mas não suporto banheiro público e imaginem banheiro público compartilhado por homens (maioria) e mulheres, tem que dar (literalmente) merda! E foi o que deu!
No primeiro dia ainda vá lá, dava pra usar, daquele jeito conhecido por nós mulheres, uma posição deprimente de aviãoq ue vai decolar, cabeça encostada na porta pra não ser surpreendida, mãos elásticas pra alcnaçr papel higiênico e um equilíbrio e contorcionismo de fazer inveja aos artistas do "Cirque du Soleil"...
O tanque pra higiene oral era do lado da porta desse famigerado banheiro e o chuveiro do lado da privada comunitária... dantesco! Pavoroso! Medonho!
Na noite de terça já me angustiei de usar aquele troço... saí fazendo vômito, os olhos lacrimejando e o estômago revirado... e com uma dúvida: tomar ou não banho!!! Crucial isso, estava suada, cansada, e precisava (ou melhor, merecia!), um banho, mas como? Fiz uma projeção do que seria o banho... mesmo de chinelo, respingaria em mim a água do chão e bichos estranhos invisíveis aos nossos olhos fundariam na minha pele o Movimentos do Bicho sem Pele! Socorro!!! Daí lembrei de uma frase do Luíz Fernando Veríssimo: "O que é um pum pra quem já está cagado?", não tomei banho, concluí que sairia pior do que quando da entrada... fui enfrentar o frio da madrugada, sem banho, sem cobertor e sem sossego...
Pela manhã circundei o tal banheiro que merecia nesse momento ser chamado de latrina e concluí que não dava mais... daí pensei que estava na guerra e na guerra urubu é frango... como não gosto de frango, não precisava enfrentar o urubu, contentei-me com o matinho e lá fui procurar uma moita discreta no meio do cerrado ao raiar do dia!!! Cena linda, poética... e preocupante! Estavam no acampamento mais de 300 pessoas (a maioria homem) e eu tinha que tentar relaxar e rezar para não ser surpreendida por ninguém enquanto estivesse naquela posição que Napoleão perdeu a guerra...
Vida de mulher é difícil demais...
Sem contar dos mosquitos que não resistiram ao repelente que eu levei e massacraram metade do meu corpo e daí pude concluir, todo mundo tem uma metade que não presta, a minha é a direita, nada, nenhuma picada enquanto o lado esquerdo (até o lado esquerdo do nariz!) está todo picado, cheio de pontos vermelhos, coçando horrores...
Ontem voltei para casa, pés doendo, um sono massacrante, mas de certa forma feliz! A tropa saiu-se bem no treinamento, torço para que tenham tirado a lição e que a partir desse momento se tornem pessoas melhores e que carreguem aqueles momentos pela vida não com a idéia de humilhação, tortura, cansaço, mas como um momento de aprendizado...
Dos meus treinamentos eu carrego e aplico muita coisa no meu dia-a-dia, e ainda que um dia opte por sair da vida militar, aquilo que apreendi estará comigo sempre...
Diverti-me!!!